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O apetite das franquias

Novas marcas nacionais e internacionais estão chegando ao mercado, atraindo os investidores.Motivo: a rentabilidade de dois dígitos. Conheça as oportunidades e os riscos desse negócio

 Investidora habitual do mercado de imóveis, a publicitária paulista Carla Brignani decidiu, em 2008, que queria dedicar seu tempo e cerca de R$ 600 mil disponíveis a um novo negócio, o de franquias. Naquele momento ela decidiu arriscar-se no setor de alimentação, mesmo sabendo dos desafios. “Falavam das dificuldades do ramo e de uma eventual saturação do mercado, mas fui a campo levantar informações e percebi que existiam oportunidades”, diz ela.

Hoje, Carla é dona de quatro restaurantes da rede Divino Fogão, especializada em comida caseira, e acredita que fez a escolha certa. Não se trata de exagero. As franquias costumam proporcionar retorno elevado, dependendo do ramo escolhido. Segundo levantamento da consultoria Global Franchise, a rentabilidade média anual de uma franquia oscila ao redor de 18% ao ano, enquanto a poupança rendeu 6,3%, o Ibovespa amargou perdas de 15% e o rendimento com aluguéis não chegou a 10%.

“É isso que explica o fato de as franquias crescerem acima de dois dígitos em uma economia que avança a apenas um ”, diz Paulo Mauro, diretor da Global Franchise. As vantagens da franquia são bem conhecidas: o empresário vai associar-se a uma marca conhecida no mercado, terá assessoria e conhecimento para ajudá-lo a atravessar os reconhecidamente difíceis primeiros tempos, algo que um empreendedor jamais conseguiria sozinho. “Se a escolha da franquia for acertada, dificilmente o investidor vai amargar números fracos no futuro”, diz Mauro.

As vantagens – e o retorno potencialmente superior – chamam a atenção do investidor, é certo. No entanto, é importante considerar que investir em uma franquia não é algo 100% seguro, além de demandar esforço e até mesmo um pouco de sorte do franqueado. Para diluir esses riscos logo no início, é preciso ficar atento não apenas aos números, calculando o total investido e o tempo de maturação, período em que o novo franqueado não poderá embolsar nenhum lucro. Para decidir se os riscos compensam, além de olhar os números, é preciso ficar atento à estrutura da marca franqueadora e analisar se ela é capaz de oferecer o suporte necessário.

“Eu conversei com cinco franqueadoras e o que me fez decidir pela Divino Fogão foi o plano de negócios”, diz Carla. Apesar da história bem-sucedida e dos retornos suculentos, é preciso ter cautela. Segundo especialistas, cerca de 10% dos franqueados fracassam. Mesmo assim, 1,1 milhão de brasileiros acreditam no modelo, que cresceu 11,9% no ano passado e faturou o equivalente a R$ 115,5 bilhões, segundo a ABF Franchising. “Franquia não é como uma aplicação financeira, ela é um investimento, mas também é um negócio, que demanda tempo e dedicação para dar certo”, diz Samy Dana, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.

Segundo o especialista, esse modelo é um bom caminho para quem tem veia empreendedora, mas ainda não possui experiência no setor em que pretende atuar. “Em um sistema de franquias, o mais importante que a franqueadora passa a seu franqueado é o conhecimento técnico”, afirma Dana. A dedicação é insubstituível, o que derruba o mito de que trocar um emprego por uma franquia é sinônimo de trabalhar menos. “O sucesso só é possível com a presença intensa do empresário”, afirma Dana.

O número de redes em operação no Brasil cresceu 11,4% em 2013, e 277 empresas iniciaram suas atividades pelo sistema, notadamente marcas internacionais que resolveram se estabelecer no País. Nos próximos meses deverão desembarcar por aqui marcas como a americana Cheesecake Factory, a rede de moda inglesa Clarks, a rede de entretenimento mexicana Kidzania, a franqueadora imobiliária australiana Harcouts, além da marca de estética portuguesa Pelo e Peso e da cadeia de fast-food americana Wendy’s.

Além de setores tradicionais, o investidor também tem à disposição segmentos mais sofisticados ocupados por empresas como a canadense Brain Fit, de educação cerebral, e a grega Genomed, especializada em medicina molecular. O segmento da alimentação continua o mais representativo, tanto entre as bandeiras estabelecidas quanto com relação aos recém-chegados. Além dele, educação, construção e pequenos reparos domésticos, a chamada bricolagem, passaram a atrair muitos empreendedores. A expectativa da ABF é que o mercado mantenha a taxa de crescimento de dois dígitos neste ano, evoluindo em 10%.

Entre tantas opções, existem franquias para todos os bolsos, com investimentos iniciais que podem variar de R$ 20 mil a R$ 13 milhões, e que oferecem desde modelos mais inovadores até os mais tradicionais. Adir Ribeiro, presidente da Praxis Consultoria avalia ser possível encontrar marcas que ofereçam diferenciais entre os recém-chegados no mercado brasileiro de franquias. “O candidato a franqueado deve ter como premissa buscar o diferencial que o franqueador oferece, seja no serviço, seja na tecnologia e também estar atento ”, diz Ribeiro. “Se for para oferecer o mesmo, é melhor evitar.”

Foi o caso do arquiteto paulista Alexandre Saidel, proprietário de oito lojas da rede de lavanderias 5àsec, que optou por um setor que possibilitasse mais flexibilidade e oportunidade de oferecer serviços diferenciados, mesmo sendo um segmento tradicional. Mas, Saidel orienta os candidatos à franquia que, quando olharem para o setor de serviços, levem em consideração as complexidades de buscar mão de obra qualificada e, principalmente, as questões trabalhistas de cada segmento escolhido. “Não se deve esquecer que há sindicatos diferentes, políticas específicas e regulações bem complexas”, diz Saidel.

“Por isso, tudo deve estar rigorosamente em dia e legalizado.” Segundo ele, a rotatividade de funcionários costuma ser elevada. Para reduzi-la, Saidel optou por sacrificar suas margens e aumentar os salários do pessoal. Um tipo de ação comum nesse mercado e que deve ser levado em conta pelos investidores. “A margem de lucro no passado já foi maior. Com a dificuldade de segurar os profissionais e a alta do preço dos imóveis em São Paulo, nossos retornos caíram de 30% no ano passado, para algo em torno de 20% este ano”, diz Saidel.